Cobertura do solo com espécies de rápido crescimento e adubação verde

Por: Admin - 14 de Agosto de 2025
Cobertura do solo com espécies de rápido crescimento e adubação verde
Após a reconfiguração do terreno, como abordamos na etapa anterior da série, o próximo passo fundamental na recuperação da área degradada é garantir a cobertura vegetal eficiente, capaz de proteger o solo contra novos processos erosivos, melhorar suas características físicas e promover sua fertilidade.
A ausência de cobertura vegetal pode ocasionar a instalação de processos erosivos ou de espécies exóticas invasoras. Desta forma, deve ser promovido o recobrimento do solo com espécies de rápido crescimento. Essa etapa começa com a escolha das espécies que serão utilizadas, isso depende da disponibilidade de sementes na região, época de plantio, condições iniciais do solo em termos de nutrientes e disponibilidade de umidade. Como dica neste caso, vale optar por espécies comummente utilizadas na agricultura convencional. O uso de plantas pouco exigentes para rápido recobrimento do solo e potencializando a melhoria da sua qualidade por meio do aporte de biomassa e nutrientes é denominada de “adubação verde”.
A adubação verde consiste no cultivo de espécies vegetais com alto potencial de produção de biomassa, muitas vezes em consórcio ou sucessão com culturas de interesse econômico. Essas plantas atuam diretamente na melhoria da estrutura, fertilidade e saúde do solo, proporcionando benefícios como:
- Estímulo à vida microbiana no solo;
- Redução da perda de umidade e aumento da infiltração da água;
- Descompactação do solo por meio do sistema radicular profundo;
- Proteção contra o impacto direto da chuva;
- Redução da germinação de plantas invasoras;
- Liberação gradual de nutrientes, com maior eficiência na ciclagem e aproveitamento por culturas posteriores.
Ao combinar diferentes espécies — principalmente leguminosas e gramíneas — é possível equilibrar a decomposição da biomassa e a liberação de nutrientes, promovendo uma cobertura mais eficiente e duradoura.
O mix de sementes deve contemplar espécies adaptadas à região, com diferentes tempos de crescimento e funções complementares, podendo citar as seguintes:
- Crotalaria spectabilis: Leguminosa anual de verão, excelente fixadora de nitrogênio e produtora de biomassa (20 a 30 t/ha de massa verde). Altura média: 1,2 a 1,5 m.
- Crotalaria juncea: Ciclo anual com rápido desenvolvimento e efeito supressor sobre plantas invasoras. Altura entre 2 a 3 m, boa adaptação a solos pobres.
- Canavalia ensiformes (feijão-de-porco): Rústica e resistente a altas temperaturas e seca. Produz biomassa com rapidez e apresenta excelente cobertura. Raízes profundas (25 a 35 cm).
- Pennisetum glaucum (milheto): Gramínea de crescimento rápido, com sistema radicular vigoroso e resistente à seca. Altura: 2 a 3 m.
- Cajanus cajan (feijão guandu): Leguminosa arbustiva com grande potencial de reciclagem de nutrientes e melhoria da estabilidade do solo. Produção entre 5 a 15 t/ha de matéria seca.
- Lolium multiflorum cv. Ponteio (Azevém Ponteio): Gramínea anual de inverno, com ciclo mais longo que o azevém comum, proporcionando melhor distribuição da produção de biomassa ao longo da estação. Apresenta alta proporção de folhas em relação a colmos e inflorescências, resultando em maior produção de matéria seca de boa qualidade. É tolerante a variações térmicas frequentes durante o inverno no sul do Brasil.
- Vicia sativa (Ervilhaca): Leguminosa anual de outono/inverno, com excelente capacidade de recuperação do solo. Possui sistema radicular denso e bem distribuído, promovendo cobertura eficiente e proteção contra erosão. Além de fixar nitrogênio atmosférico, contribui para a disponibilidade de fósforo às culturas subsequentes. Altamente adaptada ao clima do sul do Brasil.
- Raphanus sativus (Nabo Forrageiro): Espécie anual de ciclo curto, com rápido estabelecimento e elevado rendimento de matéria seca. Apresenta raiz pivotante robusta, capaz de romper camadas compactadas do solo, favorecendo a descompactação e a aeração. Destaca-se por sua eficiência na reciclagem de nutrientes, especialmente nitrogênio e fósforo.
A escolha adequada das espécies utilizadas na adubação verde é decisiva para o sucesso da recuperação de áreas degradadas, especialmente quando se busca restabelecer a cobertura vegetal de forma rápida, funcional e integrada ao processo de regeneração do solo. Cada espécie listada neste mix oferece atributos específicos — como capacidade de fixação biológica de nitrogênio, reciclagem de nutrientes, cobertura densa, ou descompactação do solo — e, quando associadas, ampliam os benefícios por meio de interações complementares. Além disso, a diversificação de espécies contribui para a resiliência do sistema frente a variações climáticas e aumenta a estabilidade ecológica da área restaurada.
Portanto, o uso estratégico de adubação verde com um mix equilibrado de gramíneas e leguminosas, adaptadas às condições locais, não apenas reduz os custos de insumos no médio prazo como também impulsiona o restabelecimento dos serviços ecossistêmicos — como o controle da erosão, a ciclagem de nutrientes e a melhoria da estrutura do solo. Essa etapa é mais que uma cobertura temporária: é um investimento essencial para consolidar as fases seguintes da restauração ecológica, preparando o terreno para a introdução de espécies nativas e promovendo um ambiente propício à regeneração natural.
Acompanhe os próximos textos, pois iniciaremos uma série falando sobre as principais técnicas de restauração. Novamente vale lembra que cada decisão técnica bem embasada aproxima uma área degradada de voltar a gerar vida, serviços ambientais e valor para a sociedade.
Até a próxima!